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Ascensão e declínio eleitoral do PCdoB no Rio de Janeiro

Atualizado: 14 de nov. de 2019

Por Theófilo Rodrigues**


Ao longo dos últimos 35 anos o PCdoB participou de seis tipos de coalizão na cidade do Rio de Janeiro: em 1985 foi formada uma coligação de esquerda com o PCB para apoiar Marcelo Cerqueira do PSB; em 1988, um giro tático fez com que a aliança na disputa pela prefeitura fosse com Arthur da Távola (PSDB); em 1992 e 1996, o PCdoB apoiou respectivamente Cidinha Campos e Miro Teixeira, ambos do PDT; em 2000, ofereceu suporte para Benedita da Silva (PT); em 2004, 2008 e 2016 lançou candidatura própria com Jandira Feghali; e em 2012 esteve com Eduardo Paes (PMDB).


Em 1985, com o fim da ditadura militar o PCdoB foi reorganizado. Naquela ocasião, o partido pôde participar pela primeira de um processo eleitoral após tantos anos. Na cidade do Rio de Janeiro, a opção foi pela aliança com o PSB de Marcelo Cerqueira, que tinha como vice João Saldanha do PCB. No entanto, foi Saturnino Braga do PDT quem foi eleito prefeito, enquanto Cerqueira obteve apenas 7% dos votos e alcançou a quarta posição.


Em 1988, no entanto, o PCdoB preferiu romper com o PDT e estabelecer uma nova coligação, dessa vez com a candidatura do tucano Artur da Távola. O PDT mais uma vez elegeu o prefeito, Marcello Alencar. Já naquele momento as disputas internas no partido eram nítidas. É conhecida a polêmica que envolveu Gildásio Cosenza, chefe de gabinete de Jandira, e a direção do partido. Independente da crise, se na disputa majoritária o PCdoB foi derrotado, na Câmara Municipal o partido avançou com a eleição de Edson Santos como vereador.


Em 1992, os comunistas optaram por voltar a apoiar o PDT, que tinha como candidata Cidinha Campos. Mas quem venceu a disputa para a prefeitura foi Cesar Maia, filiado ao PMDB. Com quase 17 mil votos, Edson Santos foi reeleito vereador do partido. Logo após essa eleição veio o primeiro baque na construção partidária: Edson Santos, em 1994, decidiu se transferir para o PT.


Em 1996, a coligação com o PDT teve continuidade. Dessa vez o candidato pedetista apoiado pelos comunistas foi Miro Teixeira. Mas quem venceu foi Luiz Paulo Conde do PFL. Com a saída de Edson Santos, o partido apostou na candidatura a vereador do ex-presidente da UNE, Fernando Gusmão. Mas Gusmão não chegou a ser eleito em 1996.

Foi somente em 2000 que o PCdoB voltou a ter uma cadeira na Câmara Municipal com a vitória de Gusmão. O partido rompeu com a tradicional coligação com o PDT e passou a apoiar o PT. A petista Benedita da Silva foi a candidata para a prefeitura numa chapa que tinha o ator comunista Francisco Milani como vice. Mas quem conquistou a prefeitura foi Cesar Maia pelo PTB.


A partir de 2004, o PCdoB inaugurou uma nova tática: a candidatura própria. Em uma coligação com o PCB, o partido lançou Jandira para a prefeitura. Seu vice foi Luis Fernando Gutman, do PCB. Jandira conquistou o quarto lugar (7% dos votos) em 2004 e ficou na frente dos demais candidatos de esquerda como Jorge Bittar (PT) e Nilo Batista (PDT). Gusmão foi reeleito vereador comunista com uma excelente votação de 36 mil votos.


O surpreendente resultado de 2004 fez com que o PCdoB repetisse a tática em 2008. Dessa vez, o partido conseguiu costurar uma aliança maior com PSB, PHS e PTN. Jandira manteve a quarta posição, mas ampliou sua votação para 10%. Alessandro Molon (PT), teve a metade dos votos de Jandira. No 2º. turno o PCdoB declarou voto em Eduardo Paes, do PMDB, que foi eleito. Para a Câmara, o partido precisou investir em uma renovação. Gusmão havia sido eleito deputado estadual em 2006, o que exigiu que o partido investisse em novos nomes. A decisão foi apostar em três candidaturas: o advogado Roberto Monteiro; o ex-presidente da UNE, Ricardo Cappelli; e Mario Del Rei. Com o apoio do ex-deputado, Edmilson Valentim, Monteiro foi eleito vereador com 14 mil votos. Mario Del Rei teve 10 mil. Já Cappelli, com o apoio da UJS, conquistou 9 mil votos. Apenas o primeiro foi eleito.


Logo após a eleição o PCdoB foi convidado para fazer parte do secretariado de Paes com as pastas da Secretaria de Cultura e da Coordenadoria de Juventude. Foi a partir dessa polêmica decisão que veio o declínio eleitoral do PCdoB.


Em 2012, os comunistas abandonaram a tática que vinha dando certo desde 2004 e apoiaram a reeleição de Paes. A opção abriu um vazio na esquerda do espectro político. Mas, como em política os espaços vazios são rapidamente ocupados, o PSOL assumiu o lugar do PCdoB como partido preferencial da esquerda carioca ao lançar a candidatura de Marcelo Freixo, que conquistou o segundo lugar com 28% dos votos.


Para a Câmara, o PCdoB montou uma chapa com quase 70 nomes. Contudo, diferente do que ocorreu em 2008, agora o partido preferiu concentrar a maior parte de seus recursos em uma única candidatura: a de Roberto Monteiro. Por um lado, a concentração de recursos fez com que Monteiro tivesse a boa votação de 17 mil votos. Mas, por outro lado, a falta de recursos para o resto da chapa fez com que o PCdoB não atingisse o coeficiente eleitoral. Assim, o partido não elegeu nenhum vereador em 2012.


O argumento apresentado para essa aliança com Paes era o de que era necessário manter o apoio do PMDB ao governo de Dilma Rousseff no âmbito nacional. Argumento muito frágil, já que o que definia a participação do PMDB no governo Dilma nunca foi o apoio do PCdoB no Rio de Janeiro.


Após ter percebido o erro que cometeu em 2012, o partido resolveu lançar mais uma vez Jandira para a prefeitura em 2016. Mas agora já era tarde. O espaço que entre 2004 e 2008 foi do PCdoB, passou a ser do PSOL. Freixo teve 18% dos votos e foi novamente o segundo colocado, enquanto Jandira recuou para apenas 3%. Sem Monteiro, que pediu desfiliação após a derrota de 2012, o PCdoB não elegeu nenhum vereador novamente.

Se pudesse voltar no tempo, o PCdoB não teria aceitado participar da gestão de Paes em 2009, teria lançado Jandira candidata em 2012 e seria hoje a principal referência partidária da esquerda carioca. Mas ainda não foram desenvolvidas máquinas do tempo. Não é função da história ser um muro de lamentações, mas sim um registro do acúmulo de aprendizados para a práxis política. O que esse percurso histórico nos ensina é que, se quiser ter sucesso eleitoral em 2020, o PCdoB não deverá se afastar daquilo que seus eleitores esperam dele, como ocorreu em 2012. Com Brecht, podemos dizer:


“Mostre-nos o caminho que devemos seguir, e nós



O seguiremos com você, mas

Não siga sem nós o caminho correto

Ele é sem nós

O mais errado”.


*Theófilo Rodrigues é membro da Direção Municipal do PCdoB no Rio de Janeiro desde 2011.


**Texto editado em 14/11 às 19h52 para correção de informações nos dois primeiros parágrafos, a pedido do autor.




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